A imuno-histoquímica (IHQ) é uma técnica poderosa e essencial na área da anatomia patológica, permitindo a visualização de antígenos específicos em tecidos biológicos através da utilização de anticorpos marcados. Essa metodologia se baseia na alta especificidade da ligação antígeno-anticorpo, possibilitando a identificação de proteínas, enzimas, hormônios e outros marcadores celulares em cortes histológicos. A IHQ desempenha um papel crucial no diagnóstico, classificação, prognóstico e monitoramento de diversas doenças, especialmente neoplasias, auxiliando na tomada de decisões terapêuticas e no acompanhamento da resposta ao tratamento.
Técnica e Fases de Processamento
O processo de IHQ envolve diversas etapas, desde a preparação da amostra até a análise microscópica final.
A imuno-histoquimica sucede o exame anatomopatológico, onde o patologista avalia morfologicamente a amostra e, a partir das possiblidades diagnósticos e dos objetivos da avalição imuno-histoquimica, seleciona os marcadores adequados
Após o anatomopatológico, na execução da imuno-histoquimmica, as principais fases incluem:
- Corte e Montagem: O bloco de parafina é cortado em seções finas (geralmente 3-5 µm) utilizando um micrótomo e as seções são montadas em lâminas de vidro. Essas amostras microscópicas são geradas em número suficiente de acordo com a quantidade de marcadores selecionadas pelo médico patologista.
- Recuperação Antigênica: A recuperação antigênica é uma etapa essencial para restaurar a conformação tridimensional dos epítopos antigênicos, que podem ser mascarados durante o processo de fixação e inclusão. Essa etapa pode ser realizada por métodos térmicos (HIER) ou enzimáticos (PIER).
- Bloqueio de Reações Inespecíficas: O bloqueio de reações inespecíficas é realizado para evitar a ligação não específica dos anticorpos secundários a componentes teciduais, reduzindo o ruído de fundo e aumentando a especificidade da reação.
- Incubação com Anticorpos Primários: Os anticorpos primários, específicos para o antígeno de interesse, são incubados com o tecido. A ligação antígeno-anticorpo ocorre de forma específica.
- Incubação com Anticorpos Secundários: Os anticorpos secundários, conjugados a um sistema de detecção (enzima ou polímero na imuno-histoquímmica), são incubados com o tecido. Esses anticorpos se ligam aos anticorpos primários, formando um complexo detectável, marcando o tecido e ampliando o sinal.
- Revelação e Contracoloração: A revelação do complexo antígeno-anticorpo é realizada utilizando um substrato cromogênico (para enzimas). A contracoloração é realizada para facilitar a visualização das estruturas teciduais.
- Montagem e Análise Microscópica: As lâminas são montadas com lamínula e analisadas ao microscópio óptico é realizada pelo médico patologista.
Aplicações e Objetivos da Imuno-histoquímica
A Imuno-histoquímica possui diversas aplicações na área da anatomia patológica, incluindo:
- Identificação de Tipos Celulares: Determinação do tipo celular e origem tecidual de tumores, crucial para diagnósticos precisos.
- Classificação de Neoplasias: Diferenciação entre subtipos de câncer com base na expressão de marcadores específicos, influenciando decisões terapêuticas.
- Marcadores Prognósticos: Avaliação da expressão de proteínas associadas ao comportamento agressivo do tumor, como Ki-67 (proliferação celular) e p53 (regulação do ciclo celular).
- Predição de Resposta Terapêutica: Determinação da expressão de receptores e proteínas-alvo para terapias específicas, como HER2 em câncer de mama e EGFR em câncer de pulmão.
- Identificação de Patógenos: Detecção de agentes infecciosos específicos em tecidos.
- Caracterização de Inflamação: Identificação de tipos de células inflamatórias e mediadores imunes em doenças autoimunes e infecciosas.
A imuno-histoquímica é uma técnica complexa que requer conhecimento técnico e experiência para sua correta execução e interpretação. A escolha adequada dos anticorpos, a padronização dos protocolos e o controle de qualidade são essenciais para garantir a acurácia e a reprodutibilidade dos resultados. A IHQ é uma ferramenta indispensável na prática da anatomia patológica, contribuindo para o diagnóstico preciso e o tratamento individualizado de diversas doenças.